Desde que se iniciou o que se pode chamar de estudos
sociolinguísticos, tornou-se ainda mais clara a consideração da linguagem e
como ela é instrumentalizada no âmbito das relações sociais com fins que
dependem de uma enorme variedade de razões que performam grupos sociais.
É debaixo do guarda-chuva da abordagem sociolinguística que
se observa a relação da linguagem com o poder. Aqui, ela serve, por assim
dizer, à propósitos definidos na conjuntura, ou do acesso ao poder, da
manutenção do poder, de expansão do poder, bem como ao da exclusão. Em outras
palavras, falar difícil, complicar o discurso ou romantizar tragédias podem ser
expedientes usados em nome do poder.
É na esteira da interdisciplinaridade entre Sociolinguística
e Apologética que se observa como as Seitas instrumentalizam a linguagem para a
expansão de suas influências. Para o que se pode reconhecer como poder
religioso. O que, por exemplo, registra Flavio Amaral em seu livro “Seitas e
Grupos Manipuladores: aprenda a identifica-los” quando observa a
manipulação das seitas por meio da construção do sentimento de dependência:
A dependência aumenta na medida em
que a seita cativa o adepto através de um discurso elitista,
caracterizando a si mesmo e suas ideias como superiores. Pessoas que
experimentam carência de admiração em outros ambientes sociais acabam buscando,
nas seitas, esse alívio temporário para preencher a lacuna emocional (AMARAL,
2016, p. 23).
Nesse sentido, cabe a honesta pergunta: Quando uma seita fala
sobre Jesus, Reino de Deus, Filho de Deus, é possível crer que se trata de
palavra ou títulos que expressam conceitos que são bíblicos? Denotam ideias com
as quais estamos acostumados? Certamente não. Esse tipo de realidade é
observada por R. C Sproul em seu livro “O mistério do Espírito Santo:
conheça a pessoa e a obra do Espírito vivo do Deus vivo”:
Algumas religiões modernas exaltam a
pessoa de Jesus de modo que ele funciona como foco da devoção religiosa, a
despeito dele ser visto como mera criatura. Tanto os Mórmons como as
Testemunhas de Jeová consideram Jesus como um ser criado e, no entanto, devotam-lhe
considerável devoção (SPROUL, 2019, p. 13).
Sobre a consideração da sutileza linguística das seitas cabe
observar a antiguidade desta prática o que explica a necessidade, na história
da Igreja, do uso de palavras ou termos, ainda que não fossem encontrados na
Bíblia, que carregassem, por assim dizer, o conceito bíblico em que a Igreja
cria em contraponto à linguagem dos hereges.
Existem fortes razões para a Igreja
usar uma linguagem extra bíblica ao formular conceitos bíblicos. Por um lado, a
Igreja é forçada a proceder assim porque os hereges distorcem as palavras
bíblicas para fazê-las dizer coisas que a Bíblia nunca tencionou dizer (SPROUL,
2019, p. 22).
É nesse contexto que se observa o clássico exemplo de
sutileza linguística protagonizada por Ário quando apresentava Jesus, no seu
arcabouço teológico, como similar ao Pai utilizando a palavra grega Homoiusios
que significava “parecido; similar” invés de Homoousios que significa, “da
mesma substância”. Por uma vogal perpetrou-se a heresia ariana herdada
atualmente pelos Testemunhas de Jeová.
De Ário aos Testemunhas de Jeová, o método é o mesmo:
utilizar palavras, inclusive usadas em arrais teológicos ortodoxos a fim de
confundir. O que observa Walter Martin em “Império das Seitas”:
Assim, uma Testemunha de Jeová, um
Mórmon ou um adepto da Ciência Cristã, por exemplo, pode usar a terminologia
bíblica cristã tranquilamente, mas empregará esses termos dentro de uma
estrutura teológica própria, por eles, criada, dando um sentido quase sempre
diferente do sentido historicamente aceito (MARTIN, 1992, p. 21)